Sensação irritante de sempre esperar o pior.
Sensação ruim de só ver a parte mais vazia do copo e ainda ficar esperando que se esvazie o restante.
Sempre critiquei quem não via a beleza das folhas de outono caídas no chão. Nunca entendi as pessoas que só conseguiam ver as árvores secas ou a suposta sujeira que as folhas fazem nas ruas.
Sempre critiquei os pessimistas e agora depois de velha, além da cara derretendo e as rugas evidentes, deixei de ser idealista, virei, irritantemente, pessimista.
Não importa se estou sem dinheiro, posso ficar sem trabalho. E mesmo sem trabalho, posso ficar doente. Ficando doente, seria uma doença terminal?
Sempre esperando o pior e ficando apática por isso: nada de bom irá acontecer. Mas a apatia não é consolo, pode preceder a depressão, a depressão pode vir de um luto, e o luto nem é o fim.
Acordo todos os dias sobressaltada: mais um dia pra sofrer, pra não saber o que fazer com a certeza de que nada é tão ruim que não possa piorar.
Ter sido uma idealista a minha vida inteira não me preparou pra ser a pessimista que agora sou. Que irritante não saber o que fazer, até mesmo por saber que não há o que fazer.