A feijoada de Gláucia.


Essa eu tinha que contar. Como sempre minhas histórias seriam trágicas se não fossem cômicas e tenho certos amigos que estar com eles, apesar dos pesares, é sempre motivo pra dar boas risadas.

Como já disse antes, minhas amigas chiconas orêas secas se formaram e as duas não fizeram bailes, mas almoços comemorativos. O primeiro foi o de Gláucia, que apesar de não ter sequer me mostrado o convite chicão dela, me mandou um recado pra que eu fosse encher a pança com feijoada no sábado de tarde num clube pras bandas do Augusto Franco.

Apesar de eu nem comer esse tipo de comida, fui para parabenizá-la, também para me redimir por não ter comparecido à colação de grau (quem é que gosta de ir para esses eventos?) Só que eu não sabia onde era esse tal clube, então tive que levar minha prima Kedma que conhece as redondezas. Mas como Adriana e Milena estavam comigo, também tive que levar as duas. Enfim, fui e ainda levei três bocas famintas.

Cheguei cedo, mais ou menos meio-dia, sentei e esperei sair a comida. Depois Isaías chegou, Nel em seguida e sentamos todos pra esperar sair a comida. Todos com o mesmo objetivo: encher a barriga e se redimir do não-comparecimento à colação de grau, porque, eu sei, é triste se formar, procurar os amigos pra gritar seu nome na hora que se sobe no palanque e não encontrar ninguém.

No começo estávamos todos alegres, eu, Nel, Isaías e minhas três primas ríamos por qualquer besteira, mas nada de sair a comida. Deu uma da tarde, duas horas, três, e nada... o refri já pesando no bucho vazio... o sorriso se esvaindo.... Kedma, lamentando ter largado um frango no barzinho onde estava esperando pra poder vir comer a feijoada, já me olhava com um olhar de cachorro faminto, mão no queixo, cabelo assanhado, reclamava de uma dor de cabeça porque nem tinha tomado café-da-manhã.

Deu quatro da tarde e percebi que uma grávida ao lado estava quase desmaiando de fome... quase cinco horas e o povo já sem graça... um silêncio... A pobre de Mileninha mal falava de fome, mas ainda exprimiu num murmúrio que não agüentava mais. Isaías, como todo bom cavalheiro, se compadeceu e resolveu sair a procura de algum lugar que vendesse qualquer coisa pra enganar a fome. Foi o nosso erro.

Ele e minhas duas primas se dirigiram até uma lanchonete próxima e quando estavam comprando, viram Gláucia chegar e, infelizmente, ouviram seu comentário quando alguém reclamou da demora do almoço:

"Deixa essas pestes morrer de fome! Nenhum desses foi pra minha formatura, agora querem comer?"

Rapaz, quando a gente soube, Nel que estava mordendo o pastel de queijo comprado voltou a mãozinha pra o prato e ficou com vergonha de comer. Adriana ficou morta porque estava ali de penetra e mal conhecia a dona da festa. Eu ri pra me acabar porque conheço a minha amiga e sei que ela fala mesmo. E Kedma essa, comeu, e ficou com a cara mais lisa, nem ligou se estava de penetra ou se não tinha ido a formatura ou se conhecia ou não a dona da festa, queria mais era matar a fome.

Resumo da ópera: a comida chegou perto das seis da tarde, mas a mulher que carregava a panela de carne tropeçou e derrubou tudo pelo chão. Pense num transtorno! No final eu acho que teve gente que foi completar o jantar em algum boteco por perto e a gente foi embora com a intenção de chupar as mangas que ganhei de um amigo de Isaías.

Agora foi bem feito. Quem mandou não comparecer a colação de grau da amiga, hein?! Pra comer e beber neguinho sabe ir, né? Ainda leva os agregados! Cara-de-pau!!!


(Psiu! Aqui pra nós, que mulher vingativa é essa Gláucia? Querer matar o povo de fome? Eu também gazeei a formatura de Nel, fui apenas pra o almoço na casa dela e num teve isso não. Misericórdia! Aposto que no casamento ela vai convidar o povo e colocar veneno no bolo. Vou ficar esperta.)

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