sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O passado

"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente".
(Mario Quintana)

Tem lugares que nem existem mais, fecharam o acesso com tábuas, grades e cadeados, mas eu sempre o visito em minhas memórias. É uma escada sinuosa que desce beirando o canyon, até quase o fundo da cachoeira, com respingos de água tocando nossa pele. Ainda sinto o medo, a euforia de uma aventura segura, mas que terminava numa pedra grande onde podíamos sentar, rir, conversar. Era divertido, acolhedor. 

É um passeio por cima do dique, de um lado a estrada, do outro o lago profundo. Antes de chegar na entrada, mato, que na nossa imaginação de criança era mata fechada. Passávamos pela "floresta densa", subíamos uma grande escadaria, andávamos em cima do dique só pra sentar e ver o brilho dos raios de sol tocando a lâmina d'água. Era iluminado, tranquilo, uma sensação de conforto e segurança.

São os ipês amarelos que florescem na primavera. Uma estrada de paralelepípedos que desce até uma ponte e sobe seguindo o caminho das árvores com densa sombra. Uma enxurrada de lembranças, de risadas a choros contidos. Uma queda de bicicleta onde eu estava na garupa. É o primeiro amor da escola. Eu nem sei por que tanto lembro e por que tanto vem a minha mente lembranças da infância e adolescência. Um saudade que não quer sossegar.

Pra seguir em frente é preciso largar um pouco as amarras do passado. Sei que preciso me despedir e deixar de imaginar como seria se de lá nunca tivesse saído. É inútil porque tem lugares e pessoas que nem existem mais. Guardo fotografias e boas lembranças. Determino o fim do "e se". E sigo.  

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