Pra não dizer que não falei das flores...

Bem lembrado. Já recebi flores. Duas vezes. Mas nunca rosas, repito, nunca um buquê de rosas. Nunca pude ter em meus braços um buquê recebido de algum amado ou amante. Já segurei buquês recebido por outras, com um certo olhar de inveja, ficando secretamente feliz ao vê-las murchando no dia seguinte.
Rosas, nunca, mas flores, sim. Uma vez na obra. Os pedreiros e carpinteiros batendo palmas e rindo alto de cima da laje. Eu, sonsa, querendo chegar logo no escritório pra olhar com carinho e cuidado as flores e a caixa de chocolate.
Outra vez eu abri a porta e alguém estava lá, cansado, suado, trêmulo, com um vaso de flores numa mão e uma caixa de bombons na outra. Mas não eram rosas...
Alguém. Preciso falar desse alguém. Vou chamá-lo aqui de Bill Gates. Até hoje eu tento descobrir o mistério que o envolvia, chego já à conclusão de que ele era um anjo.
Nunca comia: "Bill, vamos almoçar!" - "Não, obrigado"; "Bill, vamos jantar!" - "Não, obrigado"; "Bill, você não se alimenta?" - "Não, obrigado". Vivia a me olhar com um olho comprido e cara de paisagem. Nunca alterou o tom de voz comigo. Garoto inteligente, sempre carinhoso, sempre atencioso, sempre amigo. Eu era a sua gotinha de mel, adorada, venerada, idolatrada. Enviava-me cartas e e-mails magníficos. Bem escritos, inteligentes, me mostravam um mundo lindo, perfeito, cheio de sonhos. Um mistério. Até hoje um mistério.
Sentia-me a Meg Ryan e o via como o Nicolas Cages, em Cidade dos Anjos. De verdade. Foi um romance digno de filme até eu dar de cara com uma carreta carregada de troncos de árvores, enquanto descia a ladeira de bicicleta, braços abertos, cabelos ao vento, rosto sob o sol da manhã.
Estranho... Comecei reparar no fato dele não estudar, não trabalhar, não fazer absolutamente nada. Ficava em casa o dia todo. De vez em quando ia a praia, mas eu nunca ouvi ele citar o nome de um só amigo. Nunca me falava da sua família. Se dizia músico, mas nunca o vi tocando nada, a não ser algumas notas no teclado junto comigo. Se dizia amante de línguas estrangeiras, mas nunca o vi falar nenhuma delas, além do português. Acho mesmo que ele era algum tipo de anjo. Chegou de repente, do nada, em minha vida e sumiu da mesma forma. E acho que parti o seu coração. Mas não foi porque eu quis. É, não somente eu fui magoada durante a minha vidinha, também parti alguns corações, deve ser por isso que pago até hoje.
Um dia ele chegou na minha porta com flores e bombons. Não esqueço do seu olhar de medo, medo de um dia tudo acabar. E acabou. Nem eu sei por que, ou talvez saiba.
Às vezes eu penso: se fossem rosas, o final dessa história seria diferente?

"Pra quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba nos seus sonhos"

Desisto. Vou mudar de profissão. Não, não desisto de ser engenheira, desisto de ser cupido. Se eu não consigo flechar alguém pra mim, como poderei flechar pra outros? Eu sei, casa de ferreiro espeto de pau, mas está acontecendo com os pares que tentei formar o que acontece comigo: atraio, mas não conquisto. As pessoas são muito complicadas. Cansei.

E a história se repete, só que dessa vez não era aniversário dela. Por que os homens estão sempre tentando enganar as mulheres? Tsk!

Falei e Disse.
Não é possível! Ninguém gosta de ninguém hoje em dia?

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