Eu ainda lembro de quando ele era um menino. Loirinho. Sapeca. Inquieto.
Lembro também, apesar de vagamente, de quando ele nasceu, a irmã o segurava no colo como quem segura uma lagartixa (não que ele fosse tão pequeno quanto).
Nunca gostou de estudar. E imagino hoje a cena dele correndo até o trabalho da mãe pra dizer que a professora brigou feio por ele não ter feito o dever. Nenhum dos deveres, melhor dizendo. Aliás, no caderno dele não tinha nada escrito, só o que fazia era desenhos animados nas folhas dos livros. O percurso era longo, e ele correu tanto que chegou vomitando tudo o que comeu. Em prantos. Professora má.
Lembro dele descendo a ladeira de bicicleta com mais de mil e a irmã, medrosa, gritando:"Menino, você vai cair!" - e depois ele chegando em casa todo ensanguentado da queda.
Lembro disso. Dele brigando com a irmã que tinha "boca de praga". Dele brigando com a mesma irmã boca de praga porque ela alertou que ele poderia quebrar o perfume francês e caro que a mãe guardava se ele subisse daquele jeito no guarda-roupa. Não restou nenhum gotinha do perfume, em compensação o quarto ficou uma delícia de cheiroso.
Lembro dele juntando com cola e sabão o vaso de decoração que a mãe tinha comprado há pouco tempo. É certo que a irmã era uma bruxinha e ficava só repetindo: "eu não disse, eu não disse!"
Lembro do menino loirinho, que se vingava juntando os coleguinhas no corredor da escola pra chamar a irmã boca de praga de bruxa, quatro-olhos e Olívia Palito.Hoje parece até engraçado.
O menino loirinho cresceu.Saiu de casa pra trabalhar depois de terminar o curso técnico mesmo sem gostar muito de estudar. Deixou de ser mais loiro, mas continuou inteligente e abençoado. As orações de uma mãe são verdadeiramente fortes.
Hoje ele tem um currículo de fazer inveja a qualquer profissional de nível superior. Tenta terminar a faculdade depois de mil mudanças de curso, porque continua sem gostar de estudar.
Hoje ele já não chama mais a irmã de quatro-olhos ou Olívia Palito. Talvez porque ela não use mais óculos ou tenha engordado. Outros xingamentos cabem melhor hoje pra ela, mas não são ditos com tanta frequência, só de vez em quando quando o menino não está de bom humor.
Fora isso, a irmã sabe, é só com ele que ela consegue morar sem ter tantas brigas. Só ele toca violão e canta o tempo todo pra ela ouvir. Só ele fica sem usar o computador pra emprestar o monitor pra ela digitar esse post. Ela sabe disso. Mas tem uma coisa que ele não sabe talvez porque nunca tenha sido dito...
Hoje é aniversário daquele menino que um dia foi loirinho e a irmã quer dizer... dizer que... Fê, eu amo você!

 Atualmente, na Petrobrás com colegas (primeiro da esquerda)
 Quando começou a trabalhar. Na Vale do Rio Doce.
 Completa hoje duas dúzias de anos... idade suspeita, mas ninguém duvida da sua masculinidade.

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