sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Casa Grande e Senzala

Definitivamente Ouro Preto não é uma cidade que se possa conhecer de uma vez só, tamanha sua riqueza cultural e histórica. Já é a quarta vez que vou à cidade e sempre há mais coisas interessantes para se conhecer. Cá estou com os pés e pernas doendo de andar e subir ladeiras.

Dessa vez visitei também a Casa dos Contos e saí impressionada daquele casarão imponente. Reza a história que sua construção levou cinco anos (1782-1797), com o propósito de servir de residência para apenas um morador, o administrador de impostos da capitania de Minas, e seus quarenta escravos. Ele era responsável por arrecadar o "quinto" e enviar para a Coroa Portuguesa. A Casa dos Contos também serviu como carcere e em uma das celas o poeta e inconfidente Cláudio Manuel da Costa foi encontrado morto. Não se sabe se ele cometeu suicídio ou foi assassinado.

Lateral da Casa dos Contos

Essas ultimas janelas são da senzala
Caminhando por todos os aposentos da casa, em um dos andares me chamou a atenção uma privada de madeira. Achei rústica e de certa forma interessante. Dois buracos feitos numa tábua de madeira e elevados do chão. Olhei, por curiosidade, para dentro da privada e vi que o buraco era "sem fim". Profundo e escuro. "Será que o povo de antigamente defecava tanto assim, a ponto de ser necessário um buraco dessa profundidade"? Pensei e esqueci.

Sobe e desce, entra e sai de todos os ambientes, olha daqui e de lá, saimos da Casa Grande e chegamos no subsolo, a Senzala. Um Lugar tétrico. Escuro. Úmido. Fiquei imaginando 40 negros vivendo naquele ambiente. Deprimidos e maltratados. Feridos e humilhados. Empilhados naquele chão de pedra irregular, em condições subumanas. Não é a toa que eles morriam de banzo. Morriam de tanta tristeza.

Não é permitido tirar fotos da senzala.
Essa encontrei numa pesquisa pela internet.
Também estão lá expostas as ferramentas com as quais eles eram torturados e presos. Jornais antigos com recompensas para quem encontrasse negro fugitivos. Agora adivinhem onde era o final daquele buraco negro que os brancos usavam como privada? Exatamente. O final, a "fossa", acaba na entrada da senzala. A merda cagada 3 andares acima pelo homem branco, "educado", "polido", "inteligente", cai na casa do negro. É revoltante! Lá os escravos limpavam os excrementos e jogavam no rio. Aquilo que chamavam de cozinha dos negros também 'e  um buraco esquisito com um forno de pedra em um dos cantos. 

Cozinha dos escravos
Sai daquele lugar pensativa. Uma coisa é ler nos livros de história e imaginar. Outra é estar no lugar, ver aquele lugar escuro e úmido e imaginar tantos negros vivendo empilhados naquele ambiente, para servir a um "bonitinho de corpo" que se acha superior só porque a cor da sua pele é mais clara. 

O que mais me revolta é saber que, mesmo passados 3 séculos, ainda tem muita gente com esse mesmo pensamento.



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