Definitivamente Ouro Preto não é uma cidade que se possa conhecer de uma vez só, tamanha sua riqueza cultural e histórica. Já é a quarta vez que vou à cidade e sempre há mais coisas interessantes para se conhecer. Cá estou com os pés e pernas doendo de andar e subir ladeiras.
Dessa vez visitei também a Casa dos Contos e saí impressionada daquele casarão imponente. Reza a história que sua construção levou cinco anos (1782-1797), com o propósito de servir de residência para apenas um morador, o administrador de impostos da capitania de Minas, e seus quarenta escravos. Ele era responsável por arrecadar o "quinto" e enviar para a Coroa Portuguesa. A Casa dos Contos também serviu como carcere e em uma das celas o poeta e inconfidente Cláudio Manuel da Costa foi encontrado morto. Não se sabe se ele cometeu suicídio ou foi assassinado.
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Lateral da Casa dos Contos |
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Essas ultimas janelas são da senzala |
Caminhando por todos os aposentos da casa, em um dos andares me chamou a atenção uma privada de madeira. Achei rústica e de certa forma interessante. Dois buracos feitos numa tábua de madeira e elevados do chão. Olhei, por curiosidade, para dentro da privada e vi que o buraco era "sem fim". Profundo e escuro. "Será que o povo de antigamente defecava tanto assim, a ponto de ser necessário um buraco dessa profundidade"? Pensei e esqueci.
Sobe e desce, entra e sai de todos os ambientes, olha daqui e de lá, saimos da Casa Grande e chegamos no subsolo, a Senzala. Um Lugar tétrico. Escuro. Úmido. Fiquei imaginando 40 negros vivendo naquele ambiente. Deprimidos e maltratados. Feridos e humilhados. Empilhados naquele chão de pedra irregular, em condições subumanas. Não é a toa que eles morriam de banzo. Morriam de tanta tristeza.
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Não é permitido tirar fotos da senzala.
Essa encontrei numa pesquisa pela internet. |
Também estão lá expostas as ferramentas com as quais eles eram torturados e presos. Jornais antigos com recompensas para quem encontrasse negro fugitivos. Agora adivinhem onde era o final daquele buraco negro que os brancos usavam como privada? Exatamente. O final, a "fossa", acaba na entrada da senzala. A merda cagada 3 andares acima pelo homem branco, "educado", "polido", "inteligente", cai na casa do negro. É revoltante! Lá os escravos limpavam os excrementos e jogavam no rio. Aquilo que chamavam de cozinha dos negros também 'e um buraco esquisito com um forno de pedra em um dos cantos.
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Cozinha dos escravos |
Sai daquele lugar pensativa. Uma coisa é ler nos livros de história e imaginar. Outra é estar no lugar, ver aquele lugar escuro e úmido e imaginar tantos negros vivendo empilhados naquele ambiente, para servir a um "bonitinho de corpo" que se acha superior só porque a cor da sua pele é mais clara.
O que mais me revolta é saber que, mesmo passados 3 séculos, ainda tem muita gente com esse mesmo pensamento.
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