sexta-feira, 5 de julho de 2024

Queijo na Armadilha

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[치즈인더트랩 OST] 강현민 - Such (Feat. 조현아 of 어반자카파) MV
[Queijo na armadilha OST (ou trilha sonora, ou como queira!] Kang Hyun Min - Such 
(Feat. Cho Hyun Ah)


Sou muito muito sensível e sensitiva com algumas coisas. Sou empática de fazer doer. Não consigo ver ninguém chorando que choro junto. Choro até com Jornal Nacional. Mas ao mesmo tempo tenho dificuldade em identificar intenções ou julgar comportamentos. Meu sexto sentido me avisa, mas meu lado lógico e prático fica confrontando-o querendo provas. É por isso que tenho tolerância zero para pessoas não confiáveis ou para as que "pego na mentira". 

Sou emocionalmente sensível também a certos tipos de filmes e séries. Não exatamente gêneros com violência, terror ou suspense, mas dramas e melodramas que apresentem sentimentos difíceis pra que eu lide na minha vida real. Um exemplo são aqueles em que são apresentados pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial. Na minha vida já tive o desprazer de conhecer e conviver com algumas pessoas que, se não foram, precisam ser diagnosticadas com esse transtorno.

Transtorno de Personalidade Antissocial é o que chamam de Psicopata. Ah, Erika, mas você já conheceu algum serial killer? Espero que não, mas nem toda pessoa com esse transtorno é um assassino, mas todos podem de certa forma "matar" os que com ela convivem. É por isso que doramas como Tudo Bem Não ser Normal, Flor do Mal e Queijo na Armadilha foram muito perturbadores pra mim. Não consegui maratonar, larguei pelo meio, retornei pela curiosidade, sofri deveras, mas segui e conclui. Por que sou brasileira e não desisto nunca? Por que gosto de sofrer? Por que sou teimosa? Sei lá, acho que queria ver até onde a arte imita a vida. Até onde a ficção seria parecida com a minha vida. 

Antes de contar minha história sobre os tipos de "psicopatas" que já conheci, vai o aviso de que no final tem spoiler sobre o kdrama Queijo na Armadilha (Chesse in the trap de 2016).

Vou relacionar, mas sem ordem cronológica ou de periculosidade:

Pessoa #1
Uma colega já "cantou a pedra" no primeiro contato que teve com ele. Passou, desde então, a chamá-lo de "o psicopata". Como disse antes, tenho dificuldade de julgar caráter, se me tratar bem, julgo a pessoa como "boa". Mas este passou, depois de um tempo de namoro, a querer de mim bens materiais. Ele me dava migalhas de afeto e logo em seguida pedia coisas, objetos. Quando eu negava (quase sempre neguei), ele me tratava mal gratuitamente. Vivia com segredos ao telefone e quando indagado, se irritava e passava um tempo sumido, até precisar de mim novamente ($$$) e voltar a ter contato. Ao final meu sexto sentido andou conversando com meu sentido CSI e descobri que ele namorava a mim e a outra pessoa ao mesmo tempo, de ambas tirando proveito financeiro. Após essa revelação, ele logo engatou um relacionamento sério com a menina e passaram a morar juntos. Junto com ela tentou me trazer alguns prejuízos, na tentativa de se vingar por eu ter descoberto sua máscara. Mais sorte tive eu por conseguir me livrar. 

Pessoa #2
Este outro foi meu "amigo" por vários e vários meses. Nos falávamos ao telefone quase todos os dias por horas. Era uma "amizade" à distância, mas que com o tempo, de comum acordo, combinamos de nos conhecer pessoalmente. Qual não foi minha surpresa ao ser recebida com um grau de indiferença. Todas aquelas conversas não fluíram pessoalmente, na verdade ele quase não falou comigo nos poucos dias que estávamos juntos. Sempre me empurrando pra conhecer amigas dele e lá me deixando com desconhecidas, pessoas nem sempre agradáveis. Desses dias não lembro de nenhum momento bom, mas ao nos separar, poucos dias depois, ele voltou à máscara de legal, como se nada tivesse acontecido.  Algumas explicações, tivemos um segundo encontro, sim, bora tirar a prova! E foi a mesma reação da primeira vez só que com algumas pitadas de sadismo. Permanecer no erro é burrice, né? Fugi. Desliguei-me totalmente. Mesmo assim ele ainda entrou em contato mais uma vez com a desculpa: "o que fiz por você, nunca fiz por ninguém". Sobre o quê ele estava falando até hoje não sei. Esse também me trouxe alguns prejuízos, mas é um assunto pra outro post (com referência a outro kdrama).

Pessoa #3
Uma pessoa que se envolve com outra e termina dizendo: "nunca gostei de você, você foi só um passatempo", gente boa não é. Sem contar toooodo o relacionamento tóxico que vivi com ele. Um colega do trabalho me chamava de "slave", em referência ao meu estado de servidão a este namorado. Muitos anos depois a ex-esposa desse cidadão entrou em contato comigo depois de ler um e-mail que eu tinha enviado pra ele na época do término e me contou todos os problemas que tinha passado durante o casamento. Eu já estava em outro relacionamento, dessa vez muito tranquilo, e me senti segura para ouvi-la, era tranquilizador saber que a culpa não tinha sido minha de ter sido maltratada (a vítima tem uma tendência a se culpar), assim como também não era culpa dela. Muita coisa semelhante, mas com uma gravidade maior, e senti sua alma devastada, destruída. Fui empática e até pouco tempo atrás ela ainda conversava comigo, mas vi que precisava cortar relações, já não poderia mais ajudá-la ao ouvir seu desabafo, era assunto pra um tipo específico de profissional. 

Pessoa #4
Sei que eu disse que não ia relacionar por ordem de periculosidade, mas acho que esta quarta pessoa foi a pior que todas. Com este fiz coisas que nunca quis fazer ou que nunca tinha feito. Até noivei. Comprei enxoval. Paguei pensão dos filhos que ele tinha com a ex-mulher só pra que ele não se encrencasse mais,  fiz meus pais financiarem um carro que ele nunca pagou. Este foi o pior namorado, não só por ser alguém da igreja, mas porque fui intencionalmente enganada e manipulada. Do nada, de repente, não mais que de repente, ele vendeu tudo que somente eu tinha comprado, tirou todo dinheiro da nossa conta conjunta que somente eu tinha depositado e me avisou, e na véspera, meu avisou que tinha comprado uma passagem e estava indo embora pra outra cidade, outro estado, longe bem longe. Foi difícil aceitar. Sofri horrores. Mas mesmo tendo sofrido, voltei ao seu pedido de perdão e justificativas nem tão plausíveis. Ficamos namorando à distância, por telefone e carta, até que uma certa noite ele me intima: "vamos nos casar, é agora ou nunca". E Deus, em sua infinita misericórdia, me trouxe iluminação e respondi: "Nunca. E faça melhor, nunca mais ligue pra mim". Cortei relações tão radicalmente quanto ele, completamente, nunca mais falei, nem quis ouvir falar sobre.

Apesar de ser sensível, empática ao extremo, ter dificuldade em julgar caráter, quando a realidade bate a minha porta, sou sempre radical, não consigo fingir, nem tirar por menos, nunca mais mantenho contato algum. Não falo, não ligo, finjo que não conheço e tenho raiva de mim por não ter percebido antes o que talvez estivesse tão claro. Pra mim é um insulto a minha inteligência. E foi esse mesmo sentimento que tive ao terminar de assistir o kdrama Queijo na Armadilha. Fiquei mal por não ter percebido que o personagem principal era uma pessoa com transtorno de personalidade antissocial, mesmo com tantas cenas mostrando seu comportamento. Fui enganada pela trilha sonora? Pela cara bonita (e cabelo maravilhoso) do ator? Como não percebi? 

Sim, ele era totalmente manipulador, mas julguei que ele tivesse sido contido pelo próprio pai desde criança por ser de família muito rica e precisar sempre manter as aparências. Sim, ele se vingava usando os meios mais dissimulados, com um sorriso lindo e uma voz mansa, mas julguei que era por tentar proteger a mocinha. Sim, as mulheres eram seduzidas e por ele faziam loucuras, mas achava eu que era por ele ser muito bonito. Ele sempre tinha uma explicação convincente. Só na última cena do último episódio, 16 horas depois, quando ele largou a namorada no momento que ela mais precisava dele e sumiu no mundo sem manter contato, foi que percebi que todas as atitudes que ele tomou na vida só trouxeram prejuízos tanto a ela, quando a outros, física e psicologicamente, e então lembrei de mim. A cena de quando ele aparece sem a aliança que ela deu e termina o relacionamento, me partiu o coração. Aquela dor eu conheço. 

Dos três doramas que citei no início, acho que esse foi o único que se aproximou da vida real. Nos outros dois doramas há uma romantização maior no que se refere ao transtorno apresentado, onde os personagens se mostram diferentes do meio para o fim, até cheios de bons sentimentos, amor e empatia, como se tivessem sido curados pelo amor do outro, mesmo que o transtorno não tenha mesmo uma cura. Em Cheese in the trap o transtorno é retratado tal como é, é mais crível, e seus indícios são mostrados  em todo o dorama, do começo ao fim. Ele nunca gostou dela, mesmo a tratando bem, ele nunca se doou pra ela, por outros motivos narcisistas ele se relacionou com a garota. Mas era só. Ele a deixou quando sua máscara foi revelada, foi embora sem remorso, como "quem vai ali" e não volta. 

Só que volta. Nos últimos segundos, após 3 anos de ausência, já de volta a Coreia (ele tinha embora do país) ele resolve então ler os e-mails que foram enviados por ela. Doeu em mim esse final, fiquei me sentindo mal. Assim como as histórias reais que contei acima, eles sempre procuram voltar, o sentimento de posse é maior que qualquer outro. Restou a minha mente imaginar se a protagonista voltaria pra o ex-namorado ou não, se perdoaria ou não, uma vez que os sentimentos e intenções já foram revelados claramente. Espero que ela seja um pouco parecida comigo, e use (em algum momento) a razão acima de qualquer tipo de sentimento de amor ou afeto. Desejo que ela, e qualquer outra pessoa que esteja passando por algo parecido, não volte, "não volte não, já que foi quebrada em mil pedaços" (referência a música Mil Pedações de Legião Urbana). 

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