A Distância Entre Nós (Thrity Umrigar)

"Pensou que tinha se acostumado com a solidão da própria vida, que tinha aceitado aquele ponto anestesiado em seu coração, como se um médico lhe tivesse aplicado éter. (...) Talvez o tempo não cure as feridas de jeito nenhum, talvez essa seja a maior mentira de todas. Em vez disso, o que acontece é cada ferida penetra mais e mais fundo no corpo até que um dia você descobre que a própria geografia dos ossos – os traços do seu rosto, a forma dos seus quadris, o ângulo dos seus ombros, e também o brilho dos seus olhos, a textura da sua pele, a franqueza do seu sorriso – sucumbiu sob o peso das mágoas".
(pág. 65)

"Sabe, acho que ele poderia ter me ajudado... a enfrentar o que estava por vir na minha vida. Ele conhecia o segredo, sabe? O segredo da solidão. Como viver com ela, como enrolá-la no próprio corpo e ainda assim ser capaz de fazer coisas bonitas e coloridas como aqueles balões. E podia ter me ensinado, se eu tivesse pedido". (pág. 137)

"E, depois desse segundo funeral, depois que Pooja se transformar em cinzas diante dos meus malditos olhos, depois que eu tiver testemunhado o horror da minha própria filha morrendo diante de mim, vou querer derreter como gelo, vou querer desmoronar como um castelo de areia, vou querer me dissolver como açúcar num copo d´água. Vou querer parar de existir, entende? (...)
Uma mãe sem filhos, não é mãe de jeito nenhum. E, se não sou mãe, então não sou nada. Nada. Sou como o açúcar dissolvido num copo d´água. Ou como o sal que desaparece quando cozinhamos. Sou como o sal. Sem meus filhos, deixo de existir". (pág. 153)

"Para onde iam todas as lágrimas derramadas do mundo? (...) Se pudessem ser coletadas, poderiam irrigar os campos secos e esturricados da aldeia de Gopal, e outros tantos. Com isso, talvez essas lágrimas tivessem algum valor e todo esse sofrimento tivesse algum significado. Caso contrário, era tudo um desperdício, apenas um ciclo infindável de nascimento e morte, de amor e perda". (pág. 159)

"Ele não era exatamente o tipo de homem de quem se sente pena. Na verdade, olhando seus olhos tristes e delicados, o que se sentia era uma tristeza profunda, o tipo de melancolia que sentimos quando estamos num lugar bonito e o sol está se pondo". (pág. 204)

"O meu povo tem um ditado – principiou ele. – Os Deuses da Inveja percebem quando uma coisa é bonita demais. E aí­ têm que destruí­-la. Mesmo que seja sua própria criação, essa beleza desperta a sua inveja, e eles ficam com medo de que aquilo venha a ofuscá-los. E então destroem os próprios templos que construí­ram". (pág. 206)

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