segunda-feira, 28 de abril de 2008

Indo embora

Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.
Tati Bernardi

domingo, 27 de abril de 2008

Aprendendo a viver

"Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.

Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.

O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.

Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”

. Clarice Lispector in Aprendendo a Viver .

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Maré Ruim

"O tempo parou feito fotografia
amarelou tudo que não se movia
o tempo passou, claro que passaria
como passam as vontades que voltam no outro dia".
(Engenheiros do Hawaii)


Nos últimos meses só tenho tomado toco. É revoltante a quantidade de foras que já tomei ou de coisas erradas que me aconteceram. Passei a desejar, desde então, todos os dias, receber uma única e simples boa notícia, mas não, é só contrariedade. Chego a pensar que Deus tá meio que de mal de mim. Será que pedir desculpas, resolve? É que não sei o que fazer para agradá-lo, já entreguei minha vida, meu coração, já quis adorá-lo de verdade, mas nada deu certo.

Esse final de semana descobri que as únicas pessoas com as quais posso contar no mundo é a família - pai, mãe, irmãos. No meu caso, um único irmão. Esses nunca estão ocupados demais pra mim e sempre estão prontos a me estender a mão, caso seja necessário. Pelo menos é assim que eu vejo, não é possível que me decepcione com isso também. Mas pensar nisso me fez chegar a conclusão do quanto estou sozinha no mundo. E se essas únicas 3 pessoas forem embora da minha vida, o que será de mim? Não tenho marido, nem filhos, não tenho sequer um namorado-companheiro... ui! Ruim pensar isso...

Mas, o que posso fazer? Sigo a vida tentando me resignar ao que parece ruim. Corro atrás da felicidade e ela corre pra mais longe de mim. Engulo o nó na garganta pra não sufocar, quando não dá pra engolir, me tranco no quarto e no escuro choro tudo que não posso ter ou tudo que tomaram de mim, e espero essa maré ruim passar.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Metade

"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio".
(Oswaldo Montenegro


Ontem à noite chorei forte deitada no chão no “grande” estilo dramalhão mexicano. Acordei com os olhos gordos, inchados, estufados. Eita, essa briga de sempre entre o que sou e o que gostaria de ser. Ou deveria ser.

Tudo aqui me sufoca: o calor, as paredes, os móveis, as coisas velhas que se acumulam aqui dentro e que não consigo jogar fora. Essa miopia que não me deixa enxergar, que não me deixa sorrir. Esse tanto a se fazer, a falta de motivação, o tempo jogado fora, os dias que são todos iguais e irritantemente ensolarados.

Ainda a velha vontade de ser feliz seja como for. A abstinência que não passa, mesmo depois de tantos meses, pois a lembrança dos raros momentos em que senti tanta paz é muito mais forte. Tudo tão antigo - a mesmice dos sentimentos, dos desejos, a mediocridade em mim.

Tanta coisa me faz falta. Tanta coisa que não me preenche. Nem escrever mais faz tanto sentido. A busca por algo que continuo sem saber o que é. A espera por alguém que me ame como eu sou, sabendo que nem eu mesma isso consigo. O desejo por uma única boa notícia.

Tudo parece tão definitivo, tão irrevogável, irrecuperável, inalcançável. Tanto mundo no mundo e eu aqui, sem nunca ter plantado uma árvore, sem nunca ter tido um filho, sem nunca ter escrito um livro. Os clichês, os jargões, as frases de pára-choque de caminhão, de livros de auto-ajuda; as lembranças do passado, os desejos do futuro, o idealismo, a credulidade, ah, como me cansam, me sufocam, me irritam.

Quando posso choro, durmo e acordo e não sei quem eu sou. Faço o que tenho que fazer e finjo que é aquilo que quero fazer. Tão pouco prazer, tão pouco sorrir. Tanta magreza, os cabelos que caem, os dentes que não param de crescer, tanta paranóia, tanto complexo, tantos sonhos, tanta complexidade.

Lamento os erros que cometi e que continuo cometendo. Tenho apenas uma única certeza: sou metade e não sei onde está a outra banda de mim.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um dia.

Um dia vou parar de querer entender.
Um dia vou parar de dormir com essa idéia obsessiva, com esse desejo, essa vontade.
Um dia vou acordar sem essa saudade, sem essa angústia, esse medo e tanta ansiedade.
Um dia vou parar de lembrar, de voltar no tempo, desejar.
Vou parar com as lágrimas e o choro, vou parar de deixar o travesseiro molhado.
Vou parar de rolar na cama, pensando em mil coisas pra dizer, pensando em uma maneira de te encontrar.
Um dia vou parar de insistir, vou parar de te ligar, de te procurar e deixar você ir.
Vou parar de querer que seja diferente e aceitar as coisas e as pessoas como elas são.
Um dia vou parar de lembrar que gosto tanto da tua voz, da tua cor, do teu sorriso, do teu sotaque, das tuas mãos, do teu carinho, do teu corpo tão magrinho, da tua pele tão quente.
Um dia vou parar de lembrar tanto de você e pensar mais em mim.
Vou parar de querer viver uma vida com você e viver a vida que tenho pra viver.

Um dia...

mas hoje eu só queria mais uma chance de ficar perto de você novamente. Esqueço até que foi você quem quis assim. Foi uma escolha sua ficar longe. Foi você quem escolheu terminar tudo no meio e não no fim.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O que é pior?

Pensando...
não sei o que é pior: morrer afogado por preguiça de nadar
ou nadar, nadar e morrer na praia?