sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ela é de Aquário

Não é por mal que ela desaparece.

Se parece que ela não se importa: isso não é, necessariamente, verdade. Em alguns casos, é. Mas normalmente o que acontece é que ela, cheia de dúvidas e anseios e mergulhada até o pescoço em tudo o que não consegue resolver, prefere erguer as sobrancelhas e mudar de assunto. Às vezes dói. Pra ela, na verdade, dói sempre.

Ela não consegue ver o todo. Se apega aos detalhes. Checa. Verifica. Cutuca e analisa até ficar irritada com a sua própria mania de não ficar na superfície. Às vezes gostaria de não afundar, mas não consegue. O abismo, o buraco, o mar, a correnteza – todas essas coisas lhe são caras e atraentes e ela prefere morrer nos braços das sereias do que só molhar o pé na areia.

Se preocupa tanto que não sabe se as bolsas sob os olhos são por conta das dificuldades pelas quais passa aquele amigo de longa data, ou por medo de acordar e descobrir que o mundo acabou em napalm, ou por medo do que mora dentro dela e que ela nunca quer ver sair de novo. Tem receio de se perder (e não percebe que é perdida por natureza – torta das ideias, coitada).

Coleciona besteiras. Papéis antigos, embalagens coloridas, bitucas de cigarro. Apega-se aos que passaram pela sua vida com um amor tão avassalador que nunca pede para que eles voltem. Acredita que são lindos mesmo quando estão do outro lado do mundo, e quer que permaneçam lá se estão bem. Ela os quer bem, no final das contas – até tenta guardar rancor, mas tudo passa. Tudo é inconstância, delírio, adeus. Segura o que precisa segurar. O resto, joga ao vento.

Tem mania de dizer o contrário, e pode trocar de lado no meio da conversa porque ou quer te provocar ou porque, realmente, sabe que eu nunca pensei nisso? É orgulhosa até o momento em que não precisa ser mais. Reconhece. Aceita. Às vezes se morde um pouco, quebra um vaso na parede, arrebenta um souvenir, mas: reconhece. Aceita. Se recusa quando precisa e não foge. Foge. Foge demais porque quer ser passarinha (e às vezes ela pensa que já passou da idade de querer qualquer coisa assim). Muda. É uma pessoa nova quando acorda, outra diferente quando vai dormir.

Beija as mãos que lhe estendem porque acha que amor tem que ser dado assim: na palma aberta, para cima, em oferenda. Em doses que escorrem pelos dedos. Não quer nada que caiba dentro de um punho fechado.

Ela não sabe onde cabe. Às vezes, não cabe.

(J. Del Rosso do site http://entretodasascoisas.com.br)

sábado, 14 de novembro de 2015

Acho que nem sempre colhemos o que plantamos. Eu por exemplo, sou mestre na arte de colher o que não plantei. Essa minha mania de acreditar nas pessoas, na vida e em suas providências, me deixa vulnerável demais. Planto amizade, colho ingratidão. Planto sorriso, colho indiferença. Planto saudade, colho orgulho. Olha, por mais bola pra frente que sejamos, tem hora que cansa. Aquela vontade de jogar pro alto o que não acrescenta. Aquela saudade de nada, sede de estrada sem rumo. Ando preferindo desconversar, ser indiferente com o descaso. Não saboreio mais desamor. Se a gente colhe mesmo o que planta, eu não sei, mas de uma coisa não abro mão: eu me recuso a amargar ingratidão, metades e incertezas.

(Autor Desconhecido)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Sem expectativas

Eu não faço mais tanta questão, sabe? Se quiser ir, eu me dou o trabalho de te levar até a porta. E se quiser ficar, o sentimento persiste dentro de mim. Mas a escolha é tua, sempre foi. E eu vou me esforçar o máximo pra aceitar, porque entender é pedir muito pra alguém tão sentimental quanto eu. Não me interprete de forma errada, por favor. O meu amor é visível. Mas você tem o livre arbítrio. Repito, a escolha cabe exclusivamente a você. O que eu quero dizer é que permaneço aqui. Com ou sem você. A vida não é tão massacrante quando não se tem expectativas. Quando o médico corta o cordão umbilical, é a forma que a vida encontrou de nos dizer: pronto, agora é você por você. 

(Nicholas Sparks - Querido John)