Como os doramas explodiram a minha mente - Prefácio

Eu me recusava a entrar nessa modinha. Amigas comentavam e eu bem por fora, desinteressada. A netflix sugeria e eu pulava para os documentários de true crimes. Mas, porém, contudo, entretanto, certo dia estava eu no médico esperando uma consulta e rolando o feed do instagram num puro tédio, quando caí num vídeo de um pastor condenando quem assistia doramas por ser um "culto a androginia". Acendeu-se uma luzinha de curiosidade, como assim dorama = androginia, ninguém nunca me falou isso! Curiosidade, aquela que matou o gato, foi o grande mal. Fui fuçar os comentários da postagem e muitos falavam sobre o k-drama Pousando no Amor e criticando o "nada a ver" do pastor. Corri, então, para o app da netflix no celular, busquei Pousando no Amor, e foi assim que tudo começou. Um caminho sem volta. Todos avisaram. Foi como se eu estivesse cega e de repente começasse a enxergar. A ME enxergar. 

Isso foi no finalzinho de janeiro e no início de fevereiro é o meu aniversário, sempre junto com ele vem  muitas reflexões e crise existencial, lascou que com os doramas formou-se um pacotão que me fez girar num looping de recordações de tantas coisas da minha vida que eu nem lembrava mais. Ou achava que não lembrava. Lembrei de quando trabalhava na engenharia e do quanto eu era determinada com o meu sucesso profissional, do quanto já me iludi em relacionamentos, do quanto já escrevi aqui sobre, lembrei de mim, focada em ter "um corpão e um cabelão" e, sendo rata de academia com uma amiga muito querida, me diverti horrores inventando várias histórias com os personagens que lá apareciam. Lembrei do quando eu era espirituosa e divertida, lembrei dos frios na barriga, das borboletas no estômago, de como eu era vaidosa, sempre no salto e descendo dele no trabalho (literalmente porque usava somente bota de segurança e também de forma figurada por ser muito briguenta). Sim, senti saudades. Saudade de mim. 

Pra quem tá caindo aqui de paraquedas, não estou me propondo a ser mais um blog de resenha sobre doramas, longe disso, pode até ter alguns spoilers aleatórios, mas o que quero mesmo é voltar a fazer o que mais gostava que é escrever, ressuscitando este "querido diário", que já teve no seu layout tantas capas de anime (uma forma de mídia originária de um país também asiático). Sempre gostei. Sempre gostei de conhecer outras pessoas, outras culturas, e lembrei de quando eu dizia que era uma pessoa cosmopolita. Quando todos os meus colegas estavam estudando pra concurso, eu me recusava porque sabia que "tinha muito mundo no mundo e eu não queria ficar aqui". Eu queria viajar o mundo e aprender várias línguas. Estudei inglês até ser fluente (acho que nem sou mais), fiz todo o curso de espanhol (mas até hoje acho super difícil falar) e até estudei alemão. Viajei pra Grécia, Espanha e Portugal. E foi tão bom. Mas foi só. Hoje não consigo ir na minha cidade natal, não consigo viajar nem mesmo dentro do nordeste para os encontros de família. Como cheguei nesse ponto?

Sim, eu sei que quando se decide ter filho, ainda mais um filho atrás do outro, por um bom tempo fica difícil ter dinheiro, viajar, de se cuidar e mais um tanto de outras coisas mais, mas o que não entendo é: como eu me esqueci de mim? Como esqueci dos meus sonhos, como fiquei uma pessoa tão medrosa, quase uma covarde, que evita conflitos, quem tem medo até de sair de casa sozinha? Eu não era assim! O dorama foi o gatilho talvez por eu ter trabalhado em empresas asiáticas, mas sabe que quando uma caixinha é aberta várias outras também são? Um dorama me abriu a caixa de Pandora e vi o meu passado passar por mim. Vi também uma parte do meu futuro que não alcancei e que não me conformo em não alcançar, porque também sinto "saudade" dele. Traumas, sonhos desfeitos, sentimentos bons e outros nem tanto também vieram junto. Veio tudo num furação e numa onda de ansiedade sem fim que não me permite mais ficar calada. Eu preciso falar=escrever antes que o Alzheimer chegue (doença hereditária da minha família materna) e eu me esqueça completamente. 

Sei que não tenho mais leitores, então talvez seja mais fácil escrever. Porque eu comecei a ser dorameira no início de fevereiro, estamos no final de março e acho que já assisti mais de 20 doramas (k-dramas, j-dramas, c-dramas e afins), preciso relacionar todos e contar o que cada um me trouxe de lembrança, de mais um cadinho de ilusão e algumas reflexões. Desocupada eu? Não, sedenta do que fui e do que eu possa ainda vir a ser. Mais uma iludida? Ora, já dizia o sábio Salomão "tudo é ilusão"! Mas tá sendo bom lembrar que eu supostamente devo ter nascido na época do Romantismo. Então, vai, me segue, que no caminho eu te conto. 






Comentários

  1. Anônimo4:57 AM

    Bom de novo poder ler seus escritos. Talento nato. Sua escrita sempre fluida. Bem humorada e trazendo indicações culturais. Além do completo domínio gramatical. Ave Soberana! Os leitores antigos e novos te saúdam César Tavares

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  2. Anônimo11:43 AM

    Ela voltoooou! Finalmente! Ufa! Fui ao passado e voltou pra o presente abastecida com essa escrita única que só minha amiga sabe tecer. PS: o blog tá com frescura pra publicar meu nome, mas vc sabe quem eu sou. Kkkkk

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