sexta-feira, 26 de outubro de 2007


Poema Quebrado 
Oswaldo Montenegro 

Eu era apenas rio 
Esperando que você navegasse 
Poema quebrado no frio 
Num salão vazio 
Esperando que você recitasse 
Eu era manhã cinzenta 
Esperando de você a aurora 
Um lobo de olhar em brasa 
Te vendo em casa 
(e o lobo do lado de fora) 
E eu era, quem diria 
A melodia que jamais compusera 
E eu, que jamais daria 
Era o verbo dar 
Dizendo assim: quem dera! 
Então não vá embora 
Agora que eu posso dizer 
Eu já era o que sou agora 
Mas agora gosto de ser

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


A um ausente 
(Carlos Drummond de Andrade) 

Tenho razão de sentir saudade, 
tenho razão de te acusar. 
Houve um pacto implícito que rompeste 
e sem te despedires foste embora. 
Detonaste o pacto. 
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência 
de viver e explorar os rumos de obscuridade 
sem prazo sem consulta sem provocação 
até o limite das folhas caídas na hora de cair. 

Antecipaste a hora. 
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. 
Que poderias ter feito de mais grave 
do que o ato sem continuação, o ato em si, 
o ato que não ousamos nem sabemos ousar 
porque depois dele não há nada? 

Tenho razão para sentir saudade de ti, 
de nossa convivência em falas camaradas, 
simples apertar de mãos, nem isso, voz 
modulando sílabas conhecidas e banais 
que eram sempre certeza e segurança. 

Sim, tenho saudades. 
Sim, acuso-te porque fizeste 
o não previsto nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito de indagar 
porque o fizeste, porque te foste.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O texto retirei do filme "Dança Comigo?". O diálogo é entre a esposa e o detetive que contratou pra descobrir qual o segredo que o marido esconde. Ela começa dizendo:

- Tantas promessas que fazemos e não cumprimos... por que as pessoas se casam?
- Paixão.
- Não.
- Pensei que fosse uma romântica. Então, por quê?
- Porque precisamos de uma testemunha para nossas vidas. Há um bilhão de pessoas na Terra. O que significa a vida de cada um? Mas no casamento você promete cuidar de tudo, das coisas boas, das ruins, das péssimas, das coisas mundanas... de tudo. O tempo todo, todo dia. Você diz: ´Sua vida não será despercebida porque eu a notarei. Sua vida será testemunhada porque serei sua testemunha´. 


A solidão é o pior castigo. Triste de quem vive sozinho. Quero uma testemunha na minha vida, não quero mais que ela passe despercebida, não quero mais fazer compras de supermercado sozinha, não quero mais ser uma e ter que me aquecer com um edredon, quero ser dois ou três ou mais que isso, se assim Deus quiser.

E meu blog completou quatro anos este mês. Muita coisa vivida e escrita, um pedaço de mim em cada linha. Parabéns para o Sempre Soberana.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007



"Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente..."
[Martha Medeiros]

(Do blog Tempo de Travessia. E eu continuo sem criatividade!)


Ode a mais um deletado. Essa brincadeira já tá perdendo a graça, e de tão ridícula chega a ser patética. Aff!!! 

A mulher de cada porto 
Edu Lobo - Chico Buarque 
1985 

ELE 
Quem me dera ficar meu amor, de uma vez 
Mas escuta o que dizem as ondas do mar 
Se eu me deixo amarrar por um mês 
Na amada de um porto 
Noutro porto outra amada é capaz 
De outro amor amarrar, ah 
Minha vida, querida, não é nenhum mar de rosas 
Chora não, vou voltar 

ELA 
Quem me dera amarrar meu amor quase um mês 
Mas escuta o que dizem as pedras do cais 
Se eu deixasse juntar de uma vez meus amores num porto 
Transbordava a baía com todas as forças navais 
Minha vida, querido, não é nenhum mar de rosas 
Volta não, segue em paz 

OS DOIS 
Minha vida querido (querida) não é nenhum mar de rosas 

ELE 
Chora não 

ELA 
Segue em paz. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2007


Coração partido mata, diz reportagem:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/

Mas isso Gonçalves Dias já tinha dito há muito tempo atrás...

Se se morre de amor

Se se morre de amor! - Não, não se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebentar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes ao morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.

Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo, é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compreender o infinito, a imensidade
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D'aves, flores,murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes;
Isso é amor, e desse amor se morre!

Amar, é não saber, não ter coragem
Pra dizer que o amor que em nós sentimos;
Temer qu'olhos profanos nos devassem
O templo onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis d'lusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007