Metade

"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio".
(Oswaldo Montenegro


Ontem à noite chorei forte deitada no chão no “grande” estilo dramalhão mexicano. Acordei com os olhos gordos, inchados, estufados. Eita, essa briga de sempre entre o que sou e o que gostaria de ser. Ou deveria ser.

Tudo aqui me sufoca: o calor, as paredes, os móveis, as coisas velhas que se acumulam aqui dentro e que não consigo jogar fora. Essa miopia que não me deixa enxergar, que não me deixa sorrir. Esse tanto a se fazer, a falta de motivação, o tempo jogado fora, os dias que são todos iguais e irritantemente ensolarados.

Ainda a velha vontade de ser feliz seja como for. A abstinência que não passa, mesmo depois de tantos meses, pois a lembrança dos raros momentos em que senti tanta paz é muito mais forte. Tudo tão antigo - a mesmice dos sentimentos, dos desejos, a mediocridade em mim.

Tanta coisa me faz falta. Tanta coisa que não me preenche. Nem escrever mais faz tanto sentido. A busca por algo que continuo sem saber o que é. A espera por alguém que me ame como eu sou, sabendo que nem eu mesma isso consigo. O desejo por uma única boa notícia.

Tudo parece tão definitivo, tão irrevogável, irrecuperável, inalcançável. Tanto mundo no mundo e eu aqui, sem nunca ter plantado uma árvore, sem nunca ter tido um filho, sem nunca ter escrito um livro. Os clichês, os jargões, as frases de pára-choque de caminhão, de livros de auto-ajuda; as lembranças do passado, os desejos do futuro, o idealismo, a credulidade, ah, como me cansam, me sufocam, me irritam.

Quando posso choro, durmo e acordo e não sei quem eu sou. Faço o que tenho que fazer e finjo que é aquilo que quero fazer. Tão pouco prazer, tão pouco sorrir. Tanta magreza, os cabelos que caem, os dentes que não param de crescer, tanta paranóia, tanto complexo, tantos sonhos, tanta complexidade.

Lamento os erros que cometi e que continuo cometendo. Tenho apenas uma única certeza: sou metade e não sei onde está a outra banda de mim.

Comentários

  1. Quanto drama!! So' vi, ate' agora, voce reclamando e nunca agrdecendo por qualquer coisa. Como esse post e' de 2008, espero que as coisas tenham mudado em sua vida. Fortes abracos.

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  2. Ora, pois, e por que você não vai tomar no c*?

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