sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O gasguito massagista de luvas brancas

Não gosto da morte porque ela faz a gente pensar muito na vida. 

Depois de dias e dias tendo convulsões direto, de ter definhado tão rapidamente, de ter se acabado em tão pouco tempo, emagrecido, secado,  Jhoni morreu hoje no finalzinho da manhã. 

Chorei como se tivesse morrido uma pessoa. Pra mim morreu mais que uma pessoa. Choro desde que ele adoeceu. Um bichinho encontrado nas ruas em cima de um papelão, um animalzinho abandonado que foi resgatado por uma amiga (se tornou uma amiga depois dele) e entregue a mim para ser cuidado. Infelizmente não consegui mudar a sua sorte, mesmo tendo tentado. E nos seus últimos dias fiz de tudo: internamento, remédios, tratamento em clínica veterinária. Pena que não deu certo. Pena que ele não se recuperou, não conseguiu resistir, pena que já era tarde demais. Perdoe-me, meu bichinho, meu bichano, se falhei em alguma coisa. Perdoe-me por não ter lhe acompanhado todos os dias desde o momento que te recebi na minha casa. Perdoe-me por não ter lhe deixado junto com suas irmãs, que te amavam tanto, e ter te dado em adoção. Perdoe-me por não ter conseguido te salvar. 

Dizem que gatos não tem alma, isso eu não sei, mas as pessoas que os abandonam à própria sorte, essas sim, é que não tem. Meu gasguito tinha personalidade, pelo menos disso tenho certeza, e muito amor no coração. Doeu tanto ter que decidir de que forma destinar seu corpo. Não, ele não será jogado numa lata de lixo, será cremado junto com outros, um fim digno como ele merecia ter. 

O único consolo: agora ele não sente mais dor. Morará no céu dos bichinhos, onde não falta patê e tapete fofinho pra deitar. Que ele aprenda a brincar, correr e arranhar o sofá (nunca foi de fazer isso, mas que faça agora, então), que tenha muitos amiguinhos pra lhe dar lambidinhas. Aqui fica só uma dor no peito e uma saudade enorme do meu gasguito massagista de luvas brancas, o gato mais bonzinho que já conheci. 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Não suporto gente...

A síndica do meu condomínio é um tipo que faz fofoca e intriga entre os moradores. Nunca fui muito com a cara dela, sempre a achei muito linguaruda e fofoqueira. Vivia a comentar sobre a mudança de alguns moradores e se as suas coisas mostravam se eram bem financeiramente ou não. É do tipo que cataloga os que "ganham bem" e os que "ganham mais ou menos-como-é-que-conseguiram-comprar-apto-aqui?". Desse modelo. Se eu já tinha motivos pra não gostar dela, com aquela cara branca de protetor solar a caminhar pelo condomínio falando alto, hoje completei a ojeriza com uma única frase que ouvi dela: "Não suporto gatos". 

Sei que falou para que eu ouvisse, uma vez que sabe que eu amo e crio gatos, mas, sinceramente, não estava a fim de saber e não pedi a opinião dela. Essa afirmação de boca cheia "não suporto gatos" eu já ouvi de muita gente. É essa ou aquela: "não gosto porque tenho alergia". Normal. Mas depois que aprendi que rotular pessoas faz a vida mais fácil de ser entendida, rotulei que "pessoas que não suportam gatos" não são pessoas boas. Simples assim. "A compaixão pelos animais está tão ligada a bondade de caráter, que se pode afirmar que quem é cruel com os animais, não pode ser bom", já dizia Schopenhauer e eu repito agora. 

Pessoas não suportam gatos, pelo simples fatos que os gatos não a suportam. Gatos só interagem com gente do bem. Só se encostam em suas pernas e pedem carinho a pessoas que ele sentem que são acessíveis, que são cuidadosos. Só grungam de felicidade com pessoas que eles se sentem seguros, tranquilos, confortáveis. Então, não adianta, se você não gosta de gatos, é porque não tem energia boa o suficiente pra que eles se aproximem e te cativem. Ou então você é do tipo desinformado, que desconhece o quanto os felinos são fascinantes, com meu marido foi assim. Tolerou Mia porque me achou sozinha e ela me fazia companhia. Tolerou Pérola porque Mia se sentia sozinha quando eu não estava. Tolerou Pietra porque eu o convenci que ela era a minha pretinha da sorte e era a gata mais educada do planeta (e é! Mas já tá virando uma folgada como as outras.). Tolerou Lilie, por que, enfim, ninguém resiste aqueles olhinhos azuis, aquela carinha de bebê e aquele miado dengoso. 

Hoje ele não tolera as minhas filhas (não são NOSSAS filhas porque ele teima em dizer que pai de gato é que não é), ele não tolera meus inquilinos do lar temporário... ele não tolera, ele os ama! Ele é entregue as minhas filhas. Ele cuida, ele dá banho, ele dá iogurte de colherzinha, ele adora o motorzinho delas. Ele as ama. Ele passou a conhecer esses bichinhos e hoje sabe o quanto eles são especiais. 

Então, querida, querido, que não suporta gatos, só te digo uma coisa, EU NÃO SUPORTO GENTE COMO VOCÊ. E desejo que na próxima encarnação você venha como um gato, se você acredita em vida após a morte. Como eu não acredito, só espero que você tope com um gato de rua bem bravo e encha essa sua cara branca com belas listras vermelhas. Só desejo isso. Assim você terá um motivo real pra não só não suportar, mas odiar. E a recíproca será verdadeira. Passar bem. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Das paixões

Começo o dia desanimada e termino maravilhada. 
A certeza das paixões que tenho na vida: minhas filhas felinas - Mia, Pérola, Pietra, Lilie (e as próximas gatinhas que virão) e a fotografia, que me dá belas imagens e um sensação de realização maravilhosa. 
A certeza  do amor, azulzinho como eu sempre quis, um amor que cuida, se preocupa, ampara... um amor que sorri com os dentes mais brancos que já vi... o amor do meu marido. Eterno, disso eu tenho certeza, porque esse amor, mesmo que distante, mesmo que ausente, sempre existirá. 
E junto com isso tudo, a minha cama macia, fofinha, certeza do conforto que Deus me deu. É no pouco que vejo o quanto Deus é bom comigo. Feliz por todas essas graças, Senhor. Obrigada, obrigada, obrigada.  

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Se Puder Sem Medo


Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava


Oswaldo Montenegro

sábado, 16 de agosto de 2014

Mais sonhos

De repente é tanta coisa boa acontecendo, a alegria se instalando, a vida se mostrando, os sonhos se realizando, imagens belas, cores, luzes, sorrisos... Dá medo, dá medo de ser somente devaneio, ilusão passageira e eu acordo no meio do nada, do pó, do cinza, com cabelos de poeira, pés pesados de areia, olheiras de cansaço, olhos de desânimo. De bom só dinheiro no banco, planos e a vontade de comprar mais sonhos, mais sonhos, mais sonhos...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"E como eu não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar aos pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho"...

Tati Bernardi