Sobre respeitar

Momentos de reflexões dolorosas vivi hoje. Momentos de lembranças dos motivos pelos quais resolvi trocar a engenharia pela fotografia profissional somente. Um monte de momentos e situações nada prazerosos que de tanto me atormentarem, me fizeram "largar tudo" para viver daquilo que me satisfazia, que me fazia feliz, que era a fotografia. 

Vejo hoje com mais frequência do que gostaria, fotógrafas fazendo trends e memes sobre ser autônoma nessa área. O sofrimento, o cansaço, as preocupações, o trabalho excessivo. Realmente não sabia nada sobre isso, não sabia que viver de fotografia me exigiria muito mais conhecimento, informação, organização e tantas outras coisas mais. Fui aprendendo "natoralmente" e da forma mais onerosa. Ainda não aprendi tudo e tenho certeza que nunca vou aprender, por mais que me esforce. Se estivesse uma faculdade para tal, 6 anos não seriam suficientes, porque tem coisas que só a prática, o lidar, o tempo. Porque viver de fotografia é muito menos fotografar, é mais gerenciar. 

Assim também era com a engenharia, isso eu já sabia. Pra mim foram 6 anos de faculdade (comecei com Engenharia Química, 2 anos e meio, e depois mudei pra Civil até concluir), onde aprendi "malamente" a como gerenciar. Depois vieram os anos de prática (no meu caso, 15 anos de experiência) e aí é que a porca torce o rabo, porque ninguém nunca me ensinou que pessoas do sexo oposto ao meu e com cargo mais elevado iriam me tratar com falta de respeito, que iriam me tratar como ninguém e que eu ia ter que engolir tudo aquilo calada. 

Foram 15 anos engolindo, mas não calada. Eu era nova, corajosa e destemida. Eu sabia que eu tinha potencial. E briguei, briguei muito. Lembro de um fato bem específico (foram muitos e quero contar todos um a um, mas não hoje), só esse descreverei por agora: um gerente novo, um  homem de 60 anos, de fisionomia carrancuda e um sorriso artificial no rosto, sendo apresentado a todos os coordenadores, eu entre eles, eu única mulher entre eles. Na visita ao campo, dentro do carro, ele vira pra mim e indaga: "E VOCÊ? NÃO VÁ "ME" INVENTAR DE ENGRAVIDAR NESSA OBRA, HEIN"? Um clima pesado se instaurou, mas por 2 segundos não entendi o que ele quis dizer, nada tinha a ver com os assuntos técnicos que eu falava, que todo mundo no carro conversava (eu e mais 3 homens). Não entendi, estranhei e de tão estranha que fiquei, não soube o que responder. 

Aquilo ficou reverberando na minha cabeça e confesso que me incomodou enormemente. Passado alguns dias estive no Sindicato dos Engenheiros e comentei com o Presidente do Sindicato, um engenheiro com quem já tinha trabalho há alguns anos atrás. O comentário dele foi, juntamente com um risinho: "É que você é muito SENSÍVEL". Calei-me. Não sabia o que debater pra me fazer ser entendida. Mesmo minha intuição gritando pra cair fora, achei que o certo seria aceitar, afinal era a minha carreira, meu trabalho, e "trabalho é tão difícil de se consequir, quem nunca engoliu alguns sapos no ambiente de trabalho, hein"? Não sabia eu que era somente a ponta do iceberg. 

Foram os piores anos da minha vida. E eu com toda a minha INOCÊNCIA e SENSIBILIDADE só percebi que era ASSÉDIO MORAL, PRECONCEITO DE GÊNERO, MACHISMO, quando o próprio, o gerente carrancudo de sorriso artificial, me disse: "DO JEITO QUE VOCÊ RECLAMA, DAQUI A POUCO VAI QUERER ME PROCESSAR POR ASSÉDIO MORAL, NÉ"? 

Escrevo em letras garrafais porque acho que retórica nenhuma vai me ajudar a descrever o que foi que vivi. Hoje sei que foi tudo isso, mas na época eu só entendia como FALTA DE RESPEITO. E sim, era, mas era pior que isso ainda. Depois dessa fase tenebrosa da minha vida, nunca mais eu fui divertida. Nunca mais eu consegui rir das pequenas coisas do mesmo jeito. Nunca mais eu consegui fazer graça da mesma forma. 

Desde então tenho gatilhos emocionais dolorosos e, tristemente, na fotografia, no último dias, muitas situações me despertaram pra isso. Hoje não foi sobre machismo, mas foi sobre desrespeito. Foi de uma mulher pra outra mulher. Foi sobre querer HUMILHAR e se achar SUPERIOR. É mais uma história triste, mas de tristeza basta esse post, outro dia eu conto com textão e letras garrafais, por hoje eu só quero dizer que detecto a ponta do iceberg com mais facilidade, e prefiro sempre agir a favor da minha intuição, não deixo mais que o desrespeito se torne algo pior, algo que eu só perceba quando o(a) agressor(a) me vier sinalizar, só depois que os danos cheguem a ser irreversíveis.  

Há sempre algo de positivo nos momentos negativos que vivemos? Meu lado idealista quer dizer que sim. A gente aprende sempre com o que é ruim, né? Que bom. Mas queria eu ter ouvido minha intuição há não sei quanto anos atrás e ter caído fora quando aquele gerente me fez pergunta tão indecorosa, inoportuna e inconveniente. Queria ter fugido antes de afundar com o impacto do iceberg. Hoje eu estaria sendo cômica e não dramática, estaria escrevendo um textão rindo de tudo, rindo até das desgraças. Hoje não estaria chorosa com esse nó na garganta que teima em não se desatar. Mas tudo isso deve ser porque sou sensível demais, né?  

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