En el muelle de San Blas

És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.

Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.
(Epigrama n. 2- Cecília Meireles)

Antes eu conseguia rir da minha própria desgraça, hoje não mais.
Sei que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, mas quando uma coisa atrás da outra começa a dar errado, o riso murcha e mangar de mim mesma perde a graça. Difícil até levantar da cama por não ter forças.

Felicidade são as poucas horas em que posso sentir o seu leve respirar, tem um cheiro tão bom. Bom também é quando ele ri das besteiras que eu falo, e depois repete mil vezes como se fosse a coisa mais linda que já tenha ouvido. Lindo ouvi-lo repetir: "Gosto muito de você", mesmo que lá no fundo meu ceticismo grite que não é verdade. E lá vai ele pra tão longe. A única coisa muito boa que me aconteceu nesses últimos 4 meses vai se afastar de mim. Espero que volte, mas também não quero esperar feito a Louca do Cais*.

Pena que toda alegria seja assim: já venha embrulhada numa tristezinha de papel fino, como disse Millôr Fernandes. Fazer o quê?

*Texto escrito no falido blog Tops de Linha em 20 de março de 2004:

"Lembrei de uma música do Maná: `En el muelle de San Blas`, cuja tradução de `minha própria autoria` é: `A louca do cais`. Sinta o drama!

A mulher se despediu do amor. Ele partiu num barco do porto de San Blas. Ele jurou que voltava. Ela chorando feito uma condenada, jurou que esperava. Aí, já sabe, se eles não ligam no dia seguinte, imagine esse cara no meio do mar... bom, milhares de luas se passaram e a retardada sempre estava lá, no cais do porto esperando... com o mesmo vestido, que era pra ele não se confundir.
Os caranguejos mordiam a sua roupa, sua tristeza, sua ilusão (quase que eu sentia pena dela nessa hora)... e o tempo passou... e os seus olhos se encheram de amanheceres... e acabou apaixonada pelo mar, a ponto de criar raízes... sozinha... sozinha no esquecimento, com seu espírito, com seu amor, o mar, no cais de San Blas...
O doida ficou velha, o cabelo ficou branco, e lá, mas nenhum barco devolvia seu amor. Lá na cidadezinha passaram a chamá-la de A doida do cais (eu já chamo desde o início da história). A mulher virou atração no lugarejo, mas sempre tem alguém com bom senso pra acabar com a festa, e numa tarde de abril, tentaram levá-la para um manicômio. Você pensa que ela foi? É ruim, hein? Nínguém conseguiu arrancá-la de lá e do mar ela nunca mais se separou.
Sozinha... sozinha no esquecimento, com seu espírito, com seu amor, o mar, no cais de San Blas...
Sozinha no esquecimento...
Sozinha com seu espírito...
Sozinha com seu amor, o mar... a bichinha...
Jacaré apareceu? O amor dela também não. E é aí que o cantor canta gritando:

`Se quedo, se quedo, sola, sola
Se quedó, se quedó, con el sol y con el mar
Se quedo ahi, se quedo hasta el fin
Se quedo ahi, se quedo en el muelle de San Blas
Sola, sola se quedo`...

História triste... mas tem muita mulher por aí assim, meio louca do cais...

Falei e Disse".

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