Besteira


"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem".
(Sophia de Mello Breyner)

Besteira. Você sempre espera demais de todo mundo. No mundo existem pessoas ruins, sabia? Pessoas muito ruins... não lhe contaram isso? Ainda não percebeu isso?
No final resta só você juntando os caquinhos. Surpreende-me ainda existirem caquinhos!
No final resta apenas o vazio, a presença da ausência e todas essas besteiras que você gosta de escrever, sobre cheiros, sons, ventos, cores e sonhos dilacerados.
Sim, ele te deixou pra trás como quem deixa a farda usada esquecida no armário.
Sim, ele rasgou tuas cartas, tuas fotos, tuas lembranças e nunca mais te ligou.
Sim, você acorda e lembra dele, mas e daí, ele não lembra de você.
Sim, ele age como se você nunca tivesse existido. Qual a novidade? Não é sempre assim? No final termina só você com você mesma e a vida segue.
Não pode culpá-lo, pois quando olha algumas fotos, também não sente vontade de se esquecer num armário qualquer, meio caindo aos pedaços, como uma farda usada por alguns meses e que já não serve mais?

(...)

Nem sei por que um único momento se repete constantemente em minha memória. O dia inteiro. O tempo inteiro.

Final de novembro. Cidadezinha estranha. Rota de caminhões e carretas com cargas pesadas. Posto de gasolina, churrascaria. Depois de um dia de trabalho, ele deita de cabelo molhado em meu colo numa sala impessoal, enquanto eu lia uma revista deixada ali de propósito.
Rodoviária. Um nó na garganta, ele pergunta: "Onde vai passar seu natal"? Vontade de responder: "Eu só queria estar com você"..., mas preferi falar: "Ainda não sei". E ele continuou contando seus planos de final de ano nos quais eu não estava incluída.
Ônibus. Volto pra casa. Capacete branco no colo. Bota na sacola. Coração na mão. Torpedo dele que diz: "Aqui tá vazio sem você". Duas lágrimas grossas caem. Choro, sem vergonha das pessoas ao meu lado. Olho pela janela lá fora.

Aqui também tá vazio sem você...

(...)

Sim, é tudo besteira.
E você, aos 30, continua mais patética do que nunca - e daí se com ele você aprendeu a gostar de água com gás e na geladeira ainda tem uma garrafinha que ele comprou?

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