Pense numa pessoa perturbada é a minha mãe! (Frase tipicamente sergipana)
Na época da novela América (época? Faz teeempo, né?), minha mãe se injuriava com a cara de babaca do Glauco e todas as vezes que tinha uma cena dele com a Lurdinha Pires minha mãe imitava a cara dele. Mas era uma careta tão feia que eu pedia pra ela repetir mil vezes só pra me acabar de rir.
Minha mãe gosta de imitar a cara do povo. Ela é mangadeira. Acho que eu puxei a minha mãe.
Mas a gente não manga só da cara do povo, a gente manga da gente também.
Outro dia estava eu deitada na cama da minha mãe, conversando com ela, rindo, falando do apartamento, da decoração e lembramos da reforma que fizemos aqui. Trocamos piso, pintamos tudo, textura nas paredes que nunca ficava do jeito que eu queria, poeira em todo canto, bagunça, briga, contrariedades... fiquei estressada.
Já contei isso? Acho que não. Fiquei estressada mesmo, tive dores de cabeça horríveis, diarréia, vômito, insônia... Eu fiquei tão mal que de noite sonhava que debaixo do meu colchão tinha um monte de cerâmica. Uma noite eu sonhava correndo atrás da cerâmica, na noite seguinte era a cerâmica que corria atrás de mim.
Enquanto eu morria, minha mãe comia o juízo dos pedreiros e do pintor. Parecia uma mestre de obras.
Tudo era pra ser feito em 5 semanas, minha mãe conseguiu a proeza de fazê-los terminar os trabalhos em um pouco mais de duas semanas. Mas tinha que ser assim, senão eu ia endoidar. Na hora do almoço eu já estava pedindo pra passar o prato de cerâmica pra eu comer um pedaço.
Só sei que no meio da confusão baixei o pronto-socorro porque nenhum analgésico mais fazia efeito.
O doutor receitou um traqüilizante e um enfermeiro caolha veio aplicar o medicamento.
Rapaz, foi a pior parte. É sério. O cara tinha um olho cego, furou minha mão três vezes e não conseguiu aplicar o soro. Três vezes futucando a minha mão direita e torcendo a agulha pra ver se achava a minha veia. Pra você ter uma idéia saiu tanto sangue que sujou a mão dele no meio da futucação.
Eu já estava chorando de dor, Fábio dizendo: "É assim mesmo!", minha mãe reclamando, meu pai olhando com um olho feio (quem conhece o olho feio do meu pai sabe como é) e o enfermeiro caolha abusado brigando: "A senhora quer saber mais do que eu?". Até que outra enfermeira viu a bagunça e, pacientemente, conseguiu colocar o diabo da agulha direitinho logo de primeira na minha mão esquerda.
Bom, nem vou contar que o tranqüilizante me deixou grogue, né? Fiquei tonta, mas não dormi nem com a bexiga. Só fiquei boa mesmo quando tudo voltou ao normal. Minhas coisas em seus devidos lugares, casa limpa e arrumada. Ufa!
Mas até hoje quando a gente lembra minha mãe ri de mim. Imita a minha cara, a cara do meu pai, a cara do pedreiro, do enfermeiro, a cara de todo mundo e repete: "Que engenheira é essa? Se numa reforma ficou assim, se fosse construir um prédio, morria!"
Essa é a minha mãe!

Falei e Disse.

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