Eu mereço!



"Quando tu passas por mim
Por mim passam saudades cruéis
Passam saudades de um tempo
Em que a vida eu vivia a teus pés.
Quando tu passas por mim
Passam coisas que eu quero esquecer
Beijos de amor infiéis, juras que fazem sofrer
Quando tu passas por mim,
Passa o tempo e me leva pra trás,
Leva-me a um tempo sem fim
A um amor onde o amor foi demais.
Eu que só fiz te adorar e de tanto te amar
Penei mágoas sem fim,
Hoje nem olho pra trás
Quando tu passas por mim".


Não, definitivamente, eu mereço!
Se eu acreditasse em outras vidas, eu poderia jurar que fui uma pessoa muito má em outras encarnações. Eu devo ter escarrado no pão da santa ceia ou colado chiclete na cruz, só pode.
Ontem depois de um dia bucólico onde intercalei banhos de sol com banhos de piscina e de chuva, num sítio agradável com a companhia do meu namorado, chego em casa, tiro um cochilo e sou acordada por uma ligação indesejada.
Atendo sonolenta e rouca:

- A-lô...
- Erika?
- Hum... quem é?
- Não lembra mais da minha voz?
- ... diga...
- Tudo bem?
- Tudo.
- Cadê o namorado?
- Tá aqui.
- Casa quando?
- Estamos planejando. O que é que você quer?
- É que eu estava aqui pensando na vida e eu acho que eu fui muito ingrato com a sua mãe...
- ...
- Queria poder ligar pra ela pra pedir desculpas... não quero que ela tenha raiva de mim porque ela foi muito bacana comigo como ninguém nunca foi.
- Ah...
- Não quero voltar aí, ir falar com ela e ela não falar comigo. Ela tem muita raiva de mim, não tem?
- Hum... bem... considerando que ela financiou um carro pra você e nunca mais viu a cor do dinheiro, e que você sumiu no mundo e nunca mais deu satisfação, eu posso dizer, sinceramente, que ela não tem raiva de você, mas que ela te considera como uma pessoa morta ou alguém que nunca existiu.
- Ah, mas eu não fiz de propósito. Foi a vida, não sei explicar, não foi por maldade.
- Então também não foi por mal que você pegou todo o dinheiro da nossa conta conjunta onde só eu depositava e transferiu tudo pra conta da sua mãe?
- Não, tá vendo, não foi...
- E quando você disse que não me amava mais, vendeu as coisas que a gente tinha comprado no meu cartão e foi embora, também não foi de propósito?
- Não, não, foi sem pensar, sem analisar...
- Não foi? E depois de 7 anos você vem me dizer isso? Esse tempo todo pra me ligar hoje pra dar satisfação? Não acha que é tarde demais?
- É, foi... por isso estou ligando hoje... pra tentar consertar isso.
- Olha, não precisa ficar preocupado, porque nada que você faça vai mudar coisa alguma. Dizem que é preciso ter 3 boas atitudes pra poder corrigir 1 erro que se faz. Imagina o que você teria que fazer!
- Mas eu queria uma chance...
- Ah, sem contar quando você me traiu com uma mulher horrorosa, mãe de 6 filhos e teve o descaramento de me ligar 3 horas da manhã pra me dizer...
- Eu... eu... liguei porque você sempre me ouvia...
- Ah, e era? Ligou chorando dizendo que me amava e contando detalhes da transa.
- Eu estava mal, mas eu te amava, eu ainda amo, até hoje, você é a única pessoa que eu amei em toda a minha vida e amo até hoje.
- Olha, tá difícil, porque aquela menina não existe mais. Hoje eu sou uma mulher adulta e independente, e às vezes, muito raramente, quando paro pra pensar nesse tempo eu até duvido que tenha realmente acontecido, que eu tenha realmente tido algum tipo de envolvimente com você, porque se fosse hoje, com a pessoa que sou hoje tudo seria diferente, eu jamais sequer olharia pra alguém como você.
- É? Mas... bem... eu tenho que ir trabalhar agora... posso te ligar outro dia pra saber como pedir desculpas a sua mãe?
- Não, meu namorado vai ficar muito irritado com esses telefonemas.
- Então... tchau...
Tu-tu-tu-tu...

Depois disso Fábio ainda encontra uma aliança antiga e brincando tenta colocar no dedo. Eu grito: "NÃO, DÁ AZAR! ERA DO FALECIDO!". O bichinho de Fábio joga a amaldiçoada longe, assustado. Tomara que tenha ido parar no inferno.
Pra se ter uma idéia, a aliança era de ouro, com garantia e tudo, mas o tempo a corroeu.

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