Pisei em rastro de corno - Parte II

Fiquei aqui relutando pra não ter que falar sobre esse assunto. Mesmo depois de uma semana, às vezes quando fecho meus olhos posso sentir meu coração se partindo ao ouvir o barulho do impacto. Agora eu tenho certeza que pisei mesmo em rastro de corno. 

Na hora eu não quis acreditar que tinha acontecido de novo. Abri os olhos e permaneci sentada. Parada. Incrédula. Em menos de um ano arrombaram a porta do meu carro duas vezes: a primeira pra roubar o som, meu som, tão caro, tão chique; a segunda vez, de maldade, roubaram o caderno e a farda de Fabinho. E pensar que naquela noite eu pressenti, e tanto falei pra não deixar nada dentro do carro que ninguém atentou para o diacho daquela sacola velha de plástico esquecida no banco traseiro. Fiquei só com o prejuízo enquanto Fábio lamentava o assunto da faculdade que tinha perdido. É incrível como eles danificam a tranca da porta, não dava pra abrir direitinho sem deixar aquele buracão? São uns incompetentes mesmo esses ladrões. 

Em fevereiro, por causa de uns cavalos que apareceram do nada, em plena manhã, em meio a uma das avenidas mais movimentadas de Aracaju, uma menina resolveu que a melhor opção para desviar dos eqüinos seria jogar o carro dela pra cima do meu, num violência estúpida que acabou com a porta, com o eixo do carro e com as duas rodas traseiras. Até hoje o volante é meio torto, não conseguiu se recuperar do choque, ou então o mecânico era muito ruim como terapeuta. 

Há uma semana atrás, em pleno domingo de sol, depois de um banho de praia, eu, alegre e saltitante com as minhas primas e o namorado, paro num semáforo e um louco, do nada, resolve colidir violentamente com a traseira do meu lindo (mas sem sorte) carro. 
Diz ele que estava tentando desviar de um cara que o fechou no trânsito metros atrás. Sim, e a melhor opção era jogar o carro dele em cima do meu? Ninguém nunca pensa em freiar? O impacto foi tão grande que as duas gasguitas que estavam atrás sem cinto foram projetadas pra frente e quando retornaram (tudo que vai, volta) bateram com força a cabeça. Kedma ficou gritando de dor, enquanto os outros dois não sabiam o que fazer. Fábio não sabia nem em que lugar estava, ficou parado, olhando, com a boca aberta, e Iris, quando foi verificar a cabeça da irmã, viu restos de tinta vermelha no couro cabeludo dela e pensou que era sangue. Fez um escândalo no meio da rua, culpando o cara do outro carro. Pense! Foi um Deus-nos-acuda! 

É incrível. Eu que fiz a prova para tirar a habilitação 3 vezes porque me recusava a pagar a esses avaliadores corruptos, sempre dirigi com o maior cuidado, fico com dor de cabeça de tanta atenção que tenho no trânsito, ando devagar e nunca bati no carro de ninguém, sou agora vítima constante de ladrões inescrupulosos e da incompetência desses motoristas que preferem desviar dos seus problemas em cima do meu carro! Não, não venha me dizer que essas coisas acontecem, porque comigo já está acontecendo demais. Logo eu que sempre fui tão cobrada ("Você é engenheira e não tem carro? Faz o quê com tanto dinheiro? Tá entocando, né?"), me sacrifico pra pagar as parcelas do carro, pra pagar seguro, IPVA, multa (aqui em Aracaju tem 145.168 radares de velocidade, 37.568 sensores de sinal vermelho, 259.148 lombadas eletrônicas e 697.263 blitz policial por semana), percebo então que não tive sorte com o bichinho. Será que é inveja e mal-olhado? Pensei em procurar um pastor pra ungir... 

Kedma passou dois dias com o colar ortopédico no pescoço e mal podia falar porque a bichinha já não tem muito pescoço e o negócio ia até o queixo dela, prendendo os movimentos da mandíbula. O meu carro está há uma semana na oficina e os mecânicos parecem que sofrem de algum retardamento mental, porque eu nunca vi povo mais lerdo... e... e eu não quero mais falar sobre isso. Pronto, me irritei. Dá licença que eu vou embora. Ah!

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