Ela me perguntou se eu o amava mesmo.

Parei pra pensar, e incrível, descobri que não sei exatamente o que é amor.
Estou falando de amor de homem pra mulher e vice-versa. Cheguei a conclusão que amor de verdade só existe de mãe pra filho, porque o inverso também é duvidoso.
Mãe ama o filho porque é um pedaço dela, nasceu com dor e lágrimas, com muito sofrimento. Então é isso, amor está intimamente relacionado com dor. Amar dóóóói. Ui, como dói!

Acabei de ler "O amor nos tempos do Cólera" de Gabriel Garcia Marquez. Amei o livro que fala de amor, sim, amor como é na realidade, sem ilusões, talvez, em que se ama alguém porque esse alguém é bonito, tem um ótima profissão, um bom emprego, um bom carro, bons relacionamentos, boa imagem pública e outros tantos atributos.
E é assim mesmo. Pelo menos é o que vejo minhas amigas falando sempre que sabem que outra arranjou um namoradinho direito. Elas logo perguntam: "O cara tem carro?" - se a resposta for sim, logo querem saber o ano e o modelo. Se a resposta for não ou o modelo não for dos mais caros ou o carro for velho, então o cara é logo despachado para lista dos que não servem pra ser namorado de ninguém.
É, namorar hoje em dia tá muito mais difícil do que no tempo em que Carlos Drummond de Andrade escreveu aquela poesia.
O pré-requisito é ter "caráter" (faça movimentos circulares com a mãos fechadas com se estivesse manobrando um volante) e "personalidade" (faça um sinal característico de dinheiro com o dedo indicador e polegar).

Eu sempre quis ser a diferente... Meu primeiro grande amor foi alguém que só tinha estudado o ensino fundamental, tinha um subemprego e morava num dos bairros mais pobres da cidade. Alguém que já tinha sido casado e sustentava dois filhos.
Nossa! Nessa época o amor pra mim era romantizado, eu achava que tudo podia ser superado, que venceríamos qualquer coisa, bastava um amar de verdade o outro. Como eu tinha mais condições, fiz tudo por ele, os maiores sacrifícios, passei por cima de todo mundo da minha família, desafiei os amigos que tinham coragem pra me falar a verdade, briguei com Deus e o mundo. Ele chorava de amor, fazia mil declarações, até que um dia me falou, assim do nada, num rompante de sinceridade: "Não gosto mais de você, e estou indo embora porque essa é a única maneira de você me esquecer".
Uia! Pra onde foi todo o amor?

Aí eu mudei. Disse pra mim e pra quem mais queria ouvir que só ficaria com alguém que fosse do meu nível de escolaridade, nível social, econômico, político, religioso... o que fosse. Tinha que gostar das mesmas coisas que eu. Idealizei alguém que supunha não existir... e não é que encontrei? Alguém que procurava a mesma coisa que eu, que tinha os mesmos gostos, só que um simples detalhe atrapalhou tudo - eu gostava dele - ele não gostava de mim. Detalhe... simples detalhe.

Outra vez ouvi de um rapaz que gostou de mim, mas de quem não consegui gostar: "Eu demorei tanto tempo pra encontrar a mulher dos meus sonhos, e agora que encontrei... perdi". Doeu ouvir isso. Mas tinha que ser como foi. Mas por quê?

Agora eu gosto de alguém que suponho gostar de mim. Uma pessoa maravilhosa, um rapaz bonito, bom filho, trabalhador, de caráter e personalidade. Só que o carro dele é velho, bem velho, então minhas amigas acham que ele não serve pra mim.
Foi sobre ele que me perguntaram se eu o amava.

No livro que citei antes, Fermina Daza se apaixona por Florentino Ariza que era feio e pobre, mas casa com Juvenal Urbino que era bonito e rico. Vivem 50 anos de amor meio conturbado, até descobrir, depois da morte do marido e pondo um fim à espera constante de Florentino Ariza, que ela amava realmente esse outro.
Demorou muito tempo pra descobrir, e eu continuo teimosa ainda acreditando no amor dos livros de romance, que tudo suporta, tudo crê, tudo espera.

Falei e Disse.

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