Meros devaneios tolos

Triste é ter sono e não conseguir dormir. Nunca pensei que fosse sofrer de insônia, nunca tive problema pra dormir, "arrumei" isso quando cheguei aqui. Ê, ê, aí, hein?
Por isso escrevo posts longos que parece que ninguém lê. Tenho recebido pouquíssimos comentários, porém, valiosos. E vai mais um post longo de uma das minhas séries.

Meros devaneios tolos - Parte III


[Escrito em 3.12.05 12:30 AM]

É estranha a efemeridade dos momentos e situações. Parece que foi ontem que recebi uma ligação no meio do expediente de alguém bem longe de mim que voltava da praia com sua prancha e dizia: "Vi esse mar lindo azul e lembrei de você!"
Às vezes penso que o gostar é uma grande mentira. Todos fingem que amam e que querem ser amados, quando na verdade é apenas ilusão, uma confusão de reações químicas e joguetes da imaginação. Analisando friamente: Por que ele lembrou de mim quando viu o mar azul? Não tenho olhos azuis. Nunca estive com ele em frente de mar nenhum. A única coisa que existia era papo, conversas intermináveis, palavras apenas. Agora, se por algum motivo ele lembrou de mim... pra quê me dizer? Eu não estava pedindo pra saber. Meses depois não estava eu perto dele, perto desse mar? E nem por isso pensou em mim... sequer olhou direito pra mim. São essas coisas que não consigo entender...

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro"?!

(Idealismo - Augusto dos Anjos)
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Depois de tentar ver o pôr-do-sol e só conseguir chegar quando ele já se escondia no mar, nos sentamos num banco em frente ao farol. Enquanto ele cantava pra mim uma música que falava de despedida (acho que só pra me irritar), um grupo de pessoas se posicionou bem na nossa frente pra tirar uma foto do melhor ângulo do Farol da Barra. O fotógrafo dava as diretrizes para uma senhora e duas crianças, e então percebemos que também saíriamos na foto e saíriamos bem! Ele, como sempre divertido, encostado em mim, a minha frente, se ajeita no banco fazendo uma pose, põe um sorriso nos lábios e sem retirá-lo diz: "Bb, a gente vai sair na foto! Sorria pra foto, Bb, sorria pra foto"!!! Olhei pra ele e vi ainda o sorriso estático, típico dos que estão sendo fotografados, e pus no rosto o mesmo sorriso olhando fixamente para a câmera alheia.
O retratista notando nossa atitude, nos olha, baixa a câmera e fala para a senhora: "Aqui não dá, vamos mais pra frente". E saiu puxando a mulher com as duas crianças para um lugar onde ficaríamos completamente fora do foco, fazendo nosso sorriso murchar. Murchou, mas eu nunca ri tanto na minha vida! Lembrava da ousadia dele, eu seguindo seu conselho, do sorriso dele pra foto, e ria, ria do fotógrafo indo embora nos frustrando e ria muito. Ri como há muito tempo não tinha rido. Cheguei em casa e continuei rindo toda vez que lembrava. Ri até doer as costas. Ri deitada no chão sem me controlar. E ele só me olhava, incrédulo, e ria também com um sorriso lindo de dentes brancos, com um olhar lindo, como há muito tempo eu não tinha visto.

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