Meu avô está indo embora para
sempre. Com seus quase 92 anos (96 na identidade), ele se despede de nós aos
pouquinhos a cada dia. Ele não tem doença alguma, não tem diabetes, pressão
alta, problemas de coração ou qualquer outro problema que costuma acometer as pessoas
dessa idade. Ele não tem nada além do peso dos muitos anos vividos e um tal de
Alzheimer. Carinha chato, hereditário, debilitante, impiedoso. Do diagnóstico
até agora não se passou muito tempo, mas o processo foi rápido: meu avô quase já
não fala mais, não reconhece pessoas mais próximas, não interage, não conta
suas piadas, suas histórias, seus chistes, não conversa, não toca mais a sua
sanfona. É triste. É a morte chegando, inescapável. Mais triste é pensar que
ela chega pra todo mundo, cedo ou tarde. Ela vai chegar pra mim um dia também,
a não ser que o Senhor me dê a graça de ser trasladada aos céus sem vê-la. Fora
isso, ela chega. Penso mais: se eu com meus 30 e poucos anos já luto contra uma
doença incurável, o que será de mim aos 90? Se eu chegar até lá.
Meu avô em todos os seus muitos
anos plantou árvores, teve filhos, foi escrito em um livro. Construiu, trabalhou, viveu... e tocou muita sanfona nos
bailes do interior de Pernambuco com sua turma de forrozeiros pé de serra. Alegre,
severo, divertido, rígido, sim, meu avô viveu. 8 filhos, 21 netos, 14
bisnetos... por aí, e muitos amigos. Estará para sempre na história desse povo
todo, nas lembranças dos encontros de família em Petrolândia. Eu não consegui
dar um bisneto pra meu avô, queria muito, mas acho que não dá mais tempo para
isso. Espero só que eu consiga construir pelo menos metade do que ele construiu
e conquistou durante toda a sua vida. Espero que na ressurreição a gente possa encontrar
Seu Isidio, em seu corpo incorruptível, tocando sua sanfona de sempre. Espero.
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