Não era o que parecia ser


"Tenha calma, não se vá, meu pop star, tenha fé
Te prometo vir a ser do jeito que você quer
Um amor de mulher..."

(Djavan)

Folheando uma revista de notícias, viu um rapaz de quem gostou. O ano era 1998, e ele ainda era um garoto. Já era famoso, mas ela não sabia disso. Apenas viu. Apontou e disse: "Ainda vou lhe encontrar". Sabe-se lá porque falou isso. Falou e esqueceu. Fechou a revista. Guardou.

5 anos se passaram, quase metade de 2003. Por causa de um namoro frustrado, entrou em depressão profunda. Precisou se tratar. Saiu por aí viajando meio sem destino, meio vazia, meio sozinha. Acabou chegando num lugar de veraneio, mas era tempo de frio e sentiu-se mais fria ainda.
Até que no meio de tanta gente desconhecida, consegue ver alguém que não lhe era tão estranho. Ah, eu já o vi em algum lugar. Apresente-me, pediu a um amigo, que foi logo despejando: "Pra quê? Pra você ser mais uma figurinha do seu álbum?"
Nossa! Será que ele era assim tão promíscuo e leviano como todos as celebridades parecem ser? Quis responder: "Se eu for a figurinha que falta no seu álbum, pra mim não importa!" Quis dizer, mas se calou. Contentou-se em olhar a distância, em perseguir, em admirar platonicamente.
Tirava fotos com câmera objetiva. Parecia uma detetive. Olhava-o jogando. Decorava as suas roupas, seu modo de andar. Assim, à distância. Calada. Quieta. Fazia aquilo mais por diversão, que por obsessão.
Nome. Qual o nome? Fulano. Fulano??? De onde? De Tal Lugar. Nossa!!!! Seria coincidência?
Voltando pra casa, procurou pela revista há muito guardada. Leu a legenda: Fulano de Tal Lugar. Tudo batia. Tudo coincidia. É ele! É ele! Seria o destino?

Mais alguns meses se passaram. Resolveu fazer mais uma viagem. Pra sua surpresa, o encontrou por lá. O mesmo andar altivo. A mesma cara de quem procura novas figurinhas. Dessa vez pode ouvir sua voz. Falava numa língua estrangeira. Falava na sua língua natal. Cantava, entre muita gente. Era muito conhecido. Continuava famoso.
Novamente uma detetive. Perseguia. Filmava. Tentou se aproximar. Um contato. Apenas uma palavra. Ali! - foi a resposta que ela obteve pra informação inútil que pediu. Mas não pode ver seus olhos porque ele não a olhou. Sua beleza, se é que havia alguma nela, não o atraía. Contentou-se com tão pouco e voltou pra casa.

Mais alguns meses e não se sabe quando, não se sabe como, eles passaram a se comunicar todos os dias.
É certo que ela tinha procurado, quem procura, acha. Achou. Mas não se sabe quando, não se sabe como, ele passou a lhe falar da sua vida. Ele lhe contava seus problemas. Contava sobre o seu dia-a-dia. Falava sobre o mar, sobre o ar, sobre a terra. Falava sobre a fama. Ligava de manhã, de magrugada, no meio da tarde. Horas e horas de conversação. Ele em Tal Lugar, ela Aqui. E foi assim por 4 meses.
Fotos e fotos foram trocadas. Palavras e frases catalogadas. Tudo devidamente registrado, devidamente guardado. Até que veio a vontade de mais. Ele queria vir pra Aqui. Ela queria ir pra Tal Lugar. Eram amigos. Não havia pretensões. Foi tudo muito esclarecido, mas mesmo assim havia o desejo.
Tudo foi sendo preparado para o dia em que eles se veriam pessoalmente. O dia em que eles poderiam conversar olhando um pra o outro. Sem maiores interesses. Sem pretensões. Eram amigos.
Alguém tentou alertar. Isso é um sonho, menina! Nada disso existe! Mas ela acreditava demais na voz que ouvia todos os dias. Ela acreditava nas palavras digitadas.
Não poderia mais viver apenas com o garoto da revista, com a fotos, com os filmes, com a visão distante. Pagaria pra ter certeza de que ele existia. Estava cansada de ser apenas uma detetive e viver sempre buscando. Tinha que ir. Tinha que ver. E foi.

Sofreu com seu medo de voar. Sofreu com seu medo de tremer. Sofreu com sua vontade de logo chegar.
Depois desse dia, não se teve mais notícias dela. A última vez em que foi vista, estava sentada no banco do aeroporto de Tal Lugar. Esperava por Fulano, que nunca apareceu.
Não se sabe por quê, mas talvez ela não fosse tão bonita para atraí-lo. Talvez ela não fosse a última figurinha do seu álbum. Talvez fosse uma obsessão. Talvez não fossem amigos. Talvez existissem pretensões.Talvez fosse mesmo um sonho.

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