Tenho medo do pôr-do-sol



"Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol... "

Sempre fui super apegada a minha mãe. Acho que nunca conseguiram cortar o cordão umbilical.
Quando era criança, me separar da minha mãe era o fim, mas ia na onda das minhas primas e passava as férias na casa dos meus avós. Era bom, era divertido, enquanto não escurecia.
Sabe aquela hora do dia, quando está tudo acabando, quando os raios de sol estão indo embora, e tudo começa a ficar escuro, enquanto não acendem as luzes... a hora do pôr-do-sol... pra mim era terrível.
Lembro da primeira vez. Meus pais me deixaram na casa dos meus avós, ainda na Petrolândia velha, cidade que depois fôra inundada, e viajaram pra Salvador.
Acho que aqueles foram os piores dias de toda a minha vida. Todos os meus primos estavam lá, a gente brincava o tempo todo, mas quando chegava a noite... hum... sentia uma aflição inundando todas as concavidades da minha alma. Uma sensação de abandono. Uma agonia. Uma saudade estranha.
Só sei que fiquei doente. E passei a chorar escondida debaixo dos lençóis e a implorar a Deus pela volta deles, sempre olhando pra esquina, desejando que um carro branco apontasse e dele saíssem os únicos que poderiam me salvar daquela angústia que parecia não ter fim.
Dramático? Acho que nem assim dá pra mostrar o tamanho da dor que eu sentia. Sério.
Mas mesmo criança eu sabia que tinha que vencer aquilo. Ia mais e mais vezes passar férias na casa dos meus avós. E todas as vezes, com o anoitecer, eu chorava, ficava nervosa e aflita. Tomava água com açúcar, por minha conta. Eu queria ficar bem.
Sei que cresci e não mais sofria tanto com a ausência dos meus pais e a presença da noite.
Cresci. Mas quando se tem 17 anos ainda se é meio criança e cantava: "O que é que eu vou fazer com esse fim de tarde..." pagode que eu acho que todo mundo conhece, toda vez que anoitecia aqui em Sergipe, longe dos meus pais, dos meus amigos, das minhas coisas e de tudo que eu gostava. Cantava e chorava. Sentada sozinha num sofá de uma sala estranha.
Cresci. Mas quando se tem 25 anos, ainda se tem uma criança medrosa dentro de si.
Agora não, mas eu sei que no dia que eu for embora daqui, pra outra cidade, pra outro lugar estranho, longe dos meus amigos e de tudo que eu gosto, não terei medo das dificuldade comuns a quem chega num novo lugar... só terei medo de uma coisa... do pôr-do-sol.

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